sábado, junho 05, 2010

Mensagem (Maria Betânea)

                                                        
Quando o carteiro chegou
E o meu nome gritou
com uma carta na mão
Ante surpresa tão rude
Nem sei como pude chegar ao portão
Lendo o envelope bonito
No seu sobrescrito eu reconheci
A mesma caligrafia
Que me disse um dia
Estou farto de ti
Porém não tive a coragem
De abrir a mensagem
Porque na incerteza
Eu meditava e dizia
Será de alegria
Ou será de tristeza
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha
Que uma carta nos traz
E assim pensando rasguei
Tua carta e queimei
Para não sofrer mais




Todas as Cartas de Amor são Ridículas
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)



Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)








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